Dia do Geofísico: profissionais contribuem para compreensão da estrutura da Terra e impulsionam desenvolvimento do país

Quarta-feira, 31 de maio de 2023

Dia do Geofísico: profissionais contribuem para compreensão da estrutura da Terra e impulsionam desenvolvimento do país

Conheça a história de geofísicos que atuam no Serviço Geológico do Brasil (SGB) e saiba mais sobre a profissão

Você já imaginou como seria enxergar o mundo além do que os olhos podem ver? Ou ter a habilidade de descobrir histórias de bilhões de anos, escritas nas rochas e nas profundezas do globo terrestre? Parece até ficção, não é mesmo? Mas saiba que já existem profissionais com esses “superpoderes”. São os geofísicos e as geofísicas que diariamente se dedicam a conhecer a estrutura interna da Terra – das camadas superficiais às mais profundas – e estudar fenômenos físicos, como terremotos, tsunamis e vulcões.

Na foto, as geofísicas do SGB: Vanessa da Silva Oliveira, Isabelle Cavalcanti Corrêa de Oliveira Serafim e Loiane Gomes de Moraes (Foto: Arquivo pessoal)

Os geofísicos direcionam os seus “poderes” (conhecimentos e habilidades) para beneficiar a vida dos cidadãos. Nesse caso, o conhecimento gerado e as informações obtidas a partir dos estudos geofísicos podem ser usados para descobrir novos depósitos minerais, auxiliar na gestão das águas, monitorar barragens, ajudar na prevenção de desastres e contribuir para o planejamento urbano. A geofísica também ajuda a compreender mudanças climáticas.

Neste 31 de maio, data em que se comemora o Dia do Geofísico, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) ressalta a importância desses pesquisadores para ampliar o conhecimento geológico do país, impulsionar o desenvolvimento socioeconômico e salvar vidas. Conheça, a seguir, a história de geofísicos que atuam no SGB e saiba mais sobre a profissão.

Resultados que beneficiam a população

Para começar, é preciso entender que nem tudo tem uma razão científica de ser. Foi atraído pelo magnetismo das páginas de uma revista na época do pré-vestibular, com resumo das profissões, que Luiz Gustavo Rodrigues Pinto se deparou com informações sobre o curso de geofísica. “Abri em uma página aleatória e era a do curso de bacharelado em geofísica”, relembra. E, assim, decidiu prestar vestibular para esse curso na Universidade de São Paulo (USP). Ele iniciou a graduação em 1998 e concluiu em 2003. Em 2007 ingressou no SGB. Atualmente, é chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto e Geofísica (DISEGE) da Diretoria de Geologia e Recursos Minerais (DGM).


Luiz Gustavo em atividade de campo na aquisição de dados gravimétricos na região de Nova Redenção(BA), em 2011 (Foto: Arquivo pessoal)

Se a escolha do curso ocorreu, de certo modo, de forma aleatória, todos os passos seguintes foram muito bem traçados. Após a graduação, Luiz Gustavo iniciou o doutorado em geofísica no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). “A formação técnica que o curso do IAG-USP me proporcionou possibilita desempenhar bons trabalhos nas demandas que os projetos do SGB necessitam”, reforça.

O trabalho de um geofísico requer esforço e dedicação, destaca. Ele recorda que, para a aquisição de dados geofísicos ou fiscalização de aerolevantamentos geofísicos, já chegou a passar mais de 100 dias em viagens, longe da família. No entanto, os resultados mostram que está no caminho certo. “Poder ajudar as pessoas, garantindo bem-estar e qualidade de vida, quando identificamos uma localização favorável para um poço de água, ou quando nosso trabalho de pesquisa rende frutos através da descoberta de uma reserva mineral que irá gerar trabalho e renda para a população de uma região, geralmente carente, é muito gratificante”.

Investigando a terra

Partindo de São Paulo, viajando por mais de 2.600 quilômetros, chegamos ao Pará, onde começa a história do pesquisador do SGB Alexandre Lisboa Lago, representante da Diretoria de Geologia e Recursos Minerais (DGM) na Câmara Técnico-Científica do SGB. O primeiro contato de Lago com a geofísica foi durante o curso de geologia, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Ele concluiu a graduação em 1997 e, em seguida, fez mestrado e doutorado em geofísica no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas na Universidade de São Paulo (IAG-USP).

Em 2007, ingressou no SGB e teve importante atuação nos Projetos Aerogeofísicos. Por meio dessa iniciativa, foram levantadas informações sobre a terceira dimensão dos dados geológicos, a exemplo de feições geológicas como corpos, estruturas e depósitos minerais. “Eu participei de todas as etapas desses projetos: edital de contratação das empresas terceirizadas, controle da qualidade dos dados durante a aquisição e revisão e compatibilidade final de cada Projeto Aerogeofísico”, explica Lago. O pesquisador atuou em outras iniciativas, como na elaboração do Plano Nacional de Mineração 2050, na Ação Emergencial de Maceió (AL) e no projeto Bacia Carbonífera do Estado de Santa Catarina, que está em andamento.


Alexandre Lago também foi professor no curso de Impactos Ambientais promovido pela Pró-Reitora de Cultura e Extensão da USP para professores da rede pública (Foto: Arquivo pessoal)

Lago reforça a importância da geofísica como ciência para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do país. “A geofísica é importante para o conhecimento da estrutura da Terra, para a engenharia de petróleo e mineração, para a construção civil, para a hidrogeologia, para a área forense e para o meio ambiente”. O pesquisador observa ainda que as descobertas, cada vez mais raras, de depósitos minerais na superfície do território, além da redução do risco exploratório, estão relacionadas ao uso de métodos geofísicos.


Uma jornada para o interior

O fascínio pelas ciências atraiu Vanessa da Silva Oliveira para o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), onde ingressou inicialmente no curso de meteorologia. Ali conheceu estudantes de geofísica, descobriu as oportunidades que a profissão oferece e decidiu trocar os estudos sobre a atmosfera terrestre por uma imersão na própria terra. “Essa escolha certamente despertou estranhamento entre meus familiares, que passaram a me ver não mais como "a garota do tempo", mas como uma mulher percorrendo estradas de terra, torrando no sol durante o dia e evitando picadas de insetos à noite”, relata.


Hoje em dia, Vanessa Oliveira atua em São Paulo, após ter trabalhado na Superintendência Regional de  Manaus entre 2013 e 2023(Foto: Arquivo pessoal)

Em 2013, logo após concluir a graduação, juntou-se ao quadro de pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil. No ano de 2018,concluiu o mestrado em Geociências Aplicadas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ao longo desses anos, encontrou “profunda satisfação em explorar os segredos da Terra” e contribuiu significativamente para ampliar o conhecimento sobre uma região ainda pouco estudada: a Amazônica. “Foi uma verdadeira jornada de descobertas, na qual tive a honra de conhecer diferentes realidades e pessoas desse vasto e diversificado "Brasilis". Através da aplicação dos métodos geofísicos, pude contribuir adquirindo, processando e interpretando dados para um maior conhecimento geológico dessas regiões”.

Ao longo da carreira, Vanessa se depara com as perguntas acerca da profissão: “geooo… o quê?”. A verdade é que “grandes poderes vêm carregados de grandes responsabilidades” e grandes explicações. São nesses momentos que a pesquisadora tem a chance de usar uma das ferramentas: disseminar conhecimento geocientífico. “A geofísica é uma aliada valiosa que promove segurança, desenvolvimento sustentável e nos proporciona uma visão mais profunda dos segredos fascinantes do nosso planeta”, conta.

Da perícia criminal para a transição energética

Foi o interesse em compreender fenômenos que parecem abstratos, mas estão no nosso dia a dia, que levou Raphael Teixeira Corrêa a conhecer a geofísica. O primeiro contato foi por meio de um professor de matemática, que mostrou uma aplicação em perícia criminal. “Ele deu, como exemplo, corpos/ossadas que foram encontrados em subsuperfície, com base no eletromagnetismo”, recorda. Corrêa concluiu a graduação em 2013, pela Universidade de Brasília, onde também concluiu o mestrado em 2015 e o doutorado neste ano.

O geofísico ingressou em 2013 no SGB e destaca a atuação nos projetos Mapas Radiométricos e Magnetométricos do Brasil. “Foi um marco ter em um único produto a compilação de décadas de aerolevantamentos, o que não seria possível sem o trabalho de milhares de pessoas e centenas de milhões de dólares de investimento”. Côrrea também reforça a importância da atuação dos geofísicos do SGB para atender a demanda gerada pela transição energética por minérios de cobre, níquel, cobalto, lítio e grafita. “Espera-se que a demanda por esses elementos high-tech quadruplique até 2030, de acordo com a IEA (Agência Internacional de Energia). O geofísico tem papel fundamental na descoberta de novos depósitos”, pontua.

Raphael Côrrea conta que a profissão já o levou a conhecer lugares incríveis

Durante a trajetória, o pesquisador teve a oportunidade de conhecer lugares diferentes e ver de perto a diversidade brasileira. Muitas vezes precisou de uma compreensão extra da família para atender demandas em outros estados. “Meses antes do meu casamento e com um apartamento no meio de uma reforma, tive que me ausentar por quase 40 dias, em uma etapa de campo no meio na Floresta Amazônica. O suporte da família foi essencial”. Além disso, o pesquisador também conciliou trabalho e família com estudos acadêmicos. No doutorado, tem investigado a peculiaridade da Província Mineral de Carajás. “Onde se observa alta correlação entre os depósitos IOCG (iron oxide copper gold) e a presença de minerais magnéticos no manto”, explica.


E se você se interessou pela profissão, confira as dicas desses profissionais do SGB:

“Essa área oferece a oportunidade de participar de pesquisas e projetos que têm um impacto direto na sociedade, como a prevenção de desastres naturais e a exploração sustentável dos recursos naturais. Você terá a oportunidade de trabalhar em equipe com especialistas de diferentes áreas, ampliando seu conhecimento e desenvolvendo habilidades colaborativas. Estou aqui para encorajar entusiasticamente estudantes e vestibulandos, especialmente meninas e mulheres, a considerarem seguir a carreira geofísica! Lembre-se de que as geociências, assim como todas as áreas de exatas e computacionais, são para vocês também. Não se esqueçam disso!”(Vanessa Oliveira)

“O jovem que se interessar pela geofísica precisa ter em mente que é necessário aprender por toda a vida, pois é uma área em constante evolução. Além disso, precisa gostar de natureza, uma vez que o laboratório do geofísico é o campo. Ele precisa ser desapegado da sua localização geográfica, pois o geofísico pode ter uma rotina de viagens exigente. Para quem tem interesse em trabalhar fora do Brasil, é um curso bem demandado em países como Canadá e Austrália” (Raphael Corrêa)

“Primeiramente, acredito que a escolha profissional passe pelo autoconhecimento, olhando para o futuro (a exemplo de realizações, valores, habilidades e interesses pessoais). Soma-se a isso a ampla atuação do geofísico no mercado de trabalho (público e privado) em diversas áreas das geociências e o seu papel dentro da sociedade civil” (Alexandre Lago)

“A profissão de geofísico é importante para a sociedade e para o país, pois por atuar em uma diversidade tão grande de áreas geocientíficas, o geofísico poderá contribuir para a transição energética, através de estudos que possibilitem encontrar novas minas de minerais importantes para essa transição, entre outros minerais importantes para a sociedade moderna” (Luiz Gustavo Rodrigues Pinto)

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